Para quem não vive a realidade do esporte, o surf pode parecer inacessível a deficientes físicos. Porém, desde 2007, o projeto Adapt Surf prova que para manobrar a prancha basta querer. Fundada por três amigos, a ONG vem quebrando barreiras e faz dos fins de semana motivo de festa para os cerca de 40 participantes, assim como explica Henrique Saraiva, um dos fundadores.
- O nosso objetivo é trazer oportunidade de inclusão social através do esporte e também trazer diversos benefícios a pessoas que não tinham acessibilidade ao surf. Isso faz bem para o corpo e para a mente.
Dentre tantos alunos está André Souza, de 32 anos, morador do Engenho da Rainha, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. A história de vida dele começou a mudar em agosto do ano 2000, quando sentou em sua moto e deu partida para buscar sua noiva na faculdade. No meio do caminho, foi fechado por um carro. Daí em diante, uma nova realidade se desenhou à sua frente.
O acidente o deixou paraplégico. Sem poder usar as pernas, buscou distração no remo do Flamengo, mas a dica de um amigo o fez trocar de esporte. E foi no surf que André encontrou a felicidade.
- Eu posso falar que o surf mudou a minha vida. Estou no projeto desde 2009 e ele é muito importante para mim e para todos os alunos. Dá oportunidade às pessoas, renova e dá esperança.
Uma das “colegas de classe” de André é Fernanda Tolomei, de 21 anos, moradora da Tijuca, também zona norte. A universitária nasceu com má formação congênita, se arriscou em outras atividades, mas nenhuma a fez sentir tão completa quanto o surf, esporte que começou a praticar no ano passado.
- É até difícil falar. Logo no primeiro dia que entrei no mar me encantei e não saí mais. Isso me motivou fisicamente e também em todos os outros quesitos. Não tem preço.
Os planos dos responsáveis pelo Adapt Surf são muitos. Henrique e seus dois sócios, o casal Luiz Phelipe Nobre, que é fisioterapeuta, e Luana Nobre, professora de educação física, querem difundir a iniciativa para uma série de praias em todo o Brasil. Mas, por enquanto, o projeto funciona somente aos sábados, no posto 2 da Barra da Tijuca, zona oeste da capital, e aos domingos, no posto 11 do Leblon, na zona sul.
- A inspiração partiu de outros projetos, como os da Califórnia, nos Estados Unidos, por exemplo. Começamos por estas praias, mas a intenção é divulgar sempre mais e espalhar isso para todo o país.
Na frente de tantos sonhos existe um obstáculo difícil de ser superado: a falta de grana. A dificuldade financeira vem freando a iniciativa, impedindo sua disseminação e até ameaçando o futuro.
Henrique, que é formado em marketing e trabalha na área de responsabilidade social de uma multinacional, espera um dia poder se dedicar integralmente ao projeto e renovar a esperança de muita gente que não enxerga à sua frente um horizonte de grandes possibilidades.
– Temos alguns projetos para estar em mais lugares. Queremos fazer eventos maiores, mas precisamos de patrocínio. Eu, a Luana e o Pihilipe muitas vezes temos de pagar para trabalhar aqui. Lógico que compensa, é um sonho que virou realidade. Mas queríamos poder nos dedicar mais. Precisávamos nos dedicar mais.
Entenda o projeto
Para dar vida ao projeto, algumas soluções tiveram de ser pensadas pelo grupo de amigos. O primeiro e fundamental passo foi conseguir a esteira que facilita a locomoção dos cadeirantes na areia. Cadeiras anfíbias, que se adaptam na terra e na água, também ajudam nas aulas. Além disso, algumas pranchas precisaram ser adaptadas com alças ou suportes que facilitem o arqueamento da coluna de alunos com limitações mais avançadas.
Em geral, os alunos são atendidos individualmente ou em pequenas turmas. Isso permite mais atenção a cada um. Além das aulas de surf, os instrutores passam noções de oceanografia e educação ambiental. Todos recebem material didático, uniforme e, quando concluem o curso, certificado.
As inscrições e a participação nas oficinas e eventos são gratuitas para as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Para mais informações, basta acessar o site do projeto, se cadastrar pelo e-mail contato@adaptsurf.org.br ou ligar para 2239-1737. Veja a lista de vídeos no site do projeto.
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