O bolero é, certamente, o mais “brasileiro” dos gêneros internacionais de música popular. E Leny Andrade é, sem dúvida, a mais internacional dentre as cantoras populares do Brasil. Leny Andrade cresceu tocando piano e ouvindo bolero. E, como crooner de orquestra que foi, certamente muitos deles cantou, até seu encontro com o jazz e o samba-jazz do contexto bossa-novista.
Estreando no disco em 1961, cinco anos mais tarde, depois de uma temporada nacional de grande sucesso, nossa cantora foi para México, onde trabalhou e viveu por cinco anos. Lá, sempre atuando em ambientes de prestígio, conviveu com Mário Moreno, o Cantinflas, que, como presidente da associação mexicana dos artistas, não fazia graça pra ninguém. Foi admirada pela atriz María Félix, a “Maria Bonita” de Agustín Lara, tão idolatrada em seu país que, quando anunciada nos shows de Leny, era sempre aplaudida de pé. Teve como amigos, entre muitos outros, José José, espécie de Roberto Carlos de lá; Armando Manzanero, grande autor e cantor; Lucho Gatica, ídolo também no Brasil; e Sónia La Única, cantora para quem o brasileiro Garoto compôs o clássico Duas contas.
Assim, depois de quase meio século de carreira fonográfica e dezenas de discos lançados, Leny resolveu gravar este Alma Mía. Como um tributo à sua valiosíssima experiência mexicana.
Mais próximo do estilo consagrado pela cubana Olga Guillot – mencionada no Diccionario de la música cubana, de Helio Orovio, como cancionera (aquela que “diz” a canção: diferente de cantante), amiga de Leny e por esta reconhecida como sua grande influência –, este CD talvez pudesse levar um subtítulo assim como “A canção ibero-americana segundo Leny Andrade”. Congregando um repertório de autores de várias épocas e procedências (Arturo Castro, Ernesto Duarte, Margarita Lecuona, Pedro Junco e Vicente Garrido, cubanos; A. Carrillo, Manzanero e María Grever, mexicanos; Gardel, Lepera e os irmãos Expósito, argentinos; e até um norte-americano, Clare Fischer), eruditos, tangueiros e jazzistas; oitocentistas e contemporâneos, ele surpreende, positivamente, pela ausência de standards, como alguns boleros belíssimos mas onipresentes. E até mesmo pelo fato de os arranjos terem privilegiado cordas, palhetas e metais em vez do baixo acústico, dos bongôs, maracas e claves (ta-tá-tá… tá-tá) da tradição cubana.
Porque este Alma Mia – que inclusive contempla, na primeira faixa, um comovente bolero que nasceu tango – é, repetimos, a canção latino-americana segundo Leny. Ou, quem sabe, “as veias abertas de Leny Andrade”.Visceral, sim, este CD. Mas sem “dós de peito”. Apaixonado, mas jamais brega. Refinado, mas sem frescuras.
Um Leny Andrade, safra 1943, encorpado, saboroso. Que “harmoniza” com tudo. E cai bem em qualquer fino paladar, nacional ou estrangeiro.
Teatro Rival Petrobras (472 lugares) - Rua Álvaro Alvim, 33/37 - Cinelândia. Tel.: 2524-1666
Dias 26 e 27 de maio – Quinta e Sexta às 19h30
Ingressos: R$ 50,00(Inteira) R$ 40,00(Os 100 primeiros pagantes) R$ 25,00(Meia) .
Classificação: 16 anos. Mais info. www.rivalpetrobras.com.br
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